quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Quase um beaujoleais


Recentemente jantei um restaurante instalado na parte mais alta do morro da vila de Chénas, na França: Les Hauts de Chènas. Essa vila fica encostada na DOC de Beaujolais, pouco abaixo da cidade de Mâcon, mas tem sua própria designação de origem: Appellation Chénas Crontolée. Cheguei ao restaurante quase que por acaso: uma reserva de um hotel rural na região e depois uma recomendação do dono do hotel. A proprietária é uma senhora, Nathalie, que também aluga quartos e é a responsável pelas uvas e pelo vinho produzido pela família há pelo menos um século.

No restaurante ela vende e serve os vinhos da família, Domaine des Brureaux, que são feitos com a uva gamay, no “estilo” de Beaujolais. Como mostrei dúvida sobre qual tinto escolher, ela trouxe à mesa cinco garrafas com três cuvées diferentes. Explicou que um deles era feito com uvas de videiras de 90 anos, outro com videiras de 50 e o terceiro de 15. O quarto era um corte dos outros três e o quinto era outra safra de um deles.

Comecei a degustação pelo mais novo, que me pareceu aguado. O vinho de 50 e o corte também não agradaram muito. O de 90 foi uma agradável surpresa, pois era medianamente encorpado, a cor vermelho-granada com média intensidade. O aroma frutado, de cereja, mas sobressaindo-se mais o aroma deixado pela passagem do vinho em madeira: baunilha e tostado. Na boca mostrou-se macio e bem equilibrado. Como o rótulo não informava, perguntei se o vinho havia estagiado em barril e ela confirmou que estagiou 18 meses. A carta de vinho informava que ele tem potencial de envelhecimento de 3 a 8 anos.

Pedi um prato de coq au vin que combinou bem com. No final do jantar o aroma mudou sensivelmente, diminuindo o tostado e a baunilha relacionados ao barril de carvalho e ficou mais intenso o aroma de frutas vermelhas maduras, na linha da cereja. O preço da garrafa era de 19 euros (12 para levar). Foi uma boa escolha. Duas fotos abaixo mostram o rótulo do vinho.

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Leilão de vinho do Edemar Cid Ferreira


Hoje de manhã entrei na página do UOL e logo no topo vi a informação de que estava aberto pela web um leilão dos vinhos do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. A notícia informava o link para o site do leilão e eu, curioso, cliquei. No site visitei vários lotes de vinhos do porto, tintos e brancos. O site de leilão informava que as garrafas foram e estavam mantidas em adega climatizada. Não há porque duvidar, pois o proprietário tinha recursos para isso, mas o que aconteceu depois do arresto dos bens? Alguns deles mostravam que já haviam sido visitados por cerca de 10-12 pessoas e em nenhum caso havia lances.
Os preços iniciais estavam caros e mais tarde quando pesquisei alguns rótulos, percebi que o avaliador estava se baseando em preços internacionais,  o que comprativamente aos preços postos no Brasil torna o preço mínimo pelo menos bem menor que o preço local. Mas é preciso checar cada cso. As perguntas que fiz a mim mesmo naquele momento foram as que muitos outros fizeram durante o dia: Será que não estão estragados por terem passado do tempo de consumo? Se eu tivesse recursos, teria coragem de fazer ofertas por alguns desses vinhos?

Passei pelos tintos sem encontrar uma resposta. Acho que o avaliador do leilão contratado pelo site sabe o que está fazendo, mas alguns poucos lotes de vinhos mais baratos eu fiquei com a impressão de que seria mau negócio. Uma análise dos rótulos, vinículas e safras permitirá saber o tempo esperado de guada desses vinhos e isso dará uma boa informação para a tomada de decisão. Mas é difícil avaliar visualmente só pelas fotos se há algum defeito de má conservação.

Nos brancos eu tive dúvidas e separei dois casos para comentar. A primeira foto abaixo mostra vinhos varietais de Chardonnay, da California, Estados Unidos, com cerca de quinze anos na garrafa e preços na faixa de 40 reais. Esses vinhos são famosos e têm história, Mike Grgich foi o enólogo do vinho chardonnay Montelena que ganhou o primeiro lugar na famosa degustação de Paris em 1976 e o chardonnay da Chalone ficou em terceiro. A cor é âmbar escura, mostrando vinhos já no ocaso; as vinícolas são de boa qualidade, mas mesmo assim são vinhos que devem ser bebidos até no máximo três a cinco anos depois de postos à venda. Definitivamente eu não compraria esses três.


 
A segunda foto mostra duas garrafas de Chevalier Montrachet Grand Cru, de 1996 e 1998. O primeiro a R$1750, 00 e o segundo a R$1550,00. Ambos na faixa de 25 anos na garrafa. Na web também a informação de que o preço é esse mesmo, e este é um dos grandes vinhos brancos da Borgonha, feitos também com Chardonnay. A análise visula mostra um vinho de côr ambar mais clara que os anteriores e visual mais limpo e convidativo. O tempo de guarda desse vinho varia muito com a safra, mas  pode ser de 20 a 25 anos. Num dos sites que consultei afirma-se que Jancis Robinson indicou que o 88 poderia ser bebido até 2010-12. Nestes dois casos, a analise visua ajuda a complementar a informação da ficha técnica do vinho e sua história. Com reais sobrando no bolso, talvez ainda valha a pena arriscar esta compra, mas certamente há riscos.


Agora à noite voltei às páginas do UOL e a manchete dizia que o ex-dono havia emitido uma nota durante o dia em que diz que os vinhos estão estragados por má conservação. O site de leilão rebate que a avaliação foi rigorosa e os vinhos com problemas foram removidos do leilão. Diz mais, que ele está querendo "melar" (talvez coubesse melhor aqui a palavras avinagrar) o leilão. É provável, mas difícil de provar. A análise técnica nos ajuda a decidir, mas trata-se de um leilão complicado, com grande risco de pagar caro, levar e não beber.   De qualquer forma, vou acompanhar o leilão.

Nota:o leilão foi encerrado com sucesso e praticamente todos os lotes foram arrematados. A exceção foram lotes em que havia alguma informação sobre problemas, com "rótulos mofados". Os vinhos comentados acima foram comprados: boa sorte aos compradores. Será interessante ver no futuro posts na web sobre o que os compradores encontraram quando abriram a garrafa!

domingo, 7 de outubro de 2012

Simpósios e confrarias


O Museu Britânico possui, talvez, uma das maiores coleções de vasos etruscos e gregos do mundo. Alguns são gregos, mas encontrados na Itália. São vasos de terracota em que as pinturas combinam o vermelho do barro com o preto da tinta. As cenas mostram guerreiros tomando vinho, jovens servindo adultos e diversos tipos de cenas domésticas e ao ar-livre, além de cenas de guerra. Muitos desses vasos eram usados para preparar o vinho ou então para servir. Possuem a boca larga e ampla, no que diferem das ânforas, que eram usadas para o transporte do vinho.

 O cartão que descreve um dos vasos que vi informava que a palavra “symposium”(hoje “simpósio” em Português), de origem grega, quer dizer literalmente “drinking together” que em tradução livre seria “ reunião para beber” e literalmente “beber junto”. Especificamente, era usada para descrever as festas após o jantar, só para homens, em que eles bebiam vinhos e conversavam assuntos intelectuais. Mulheres e jovens participavam apenas para servir o vinho. As cenas desenhadas no vaso que continha essa informação mostram adultos jovens reclinados em sofás, com copos nas mãos e sendo servidos. A foto de um vaso desse tipo se encontra abaixo, mostrando o deus Baco entre videiras e uvas.



A palavra simpósio continua muito usada no mundo ocidental e significa nos meios acadêmicos uma reunião de alunos, professores, pesquisadores e profissionais de uma área do conhecimento para discutir os avanços científicos e tecnológicos. Isto é, designa só a segunda parte do sentido original. No Brasil e em Portugal usa-se modernamente o termo “confraria” para designar grupos de pessoas, sem distinção de gênero, mas com predominância de homens, para que reúnem regularmente para degustar e discutir vinhos. Ver também o significado de simpósio na Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Simp%C3%B3sio), onde está a pintura abaixo, mostrando um simpósio original.