Há várias aplicações sobre vinho surgindo para uso em telefones
celulares inteligentes (smart phones)
e computadores do tipo tablet. Normalmente
elas combinam funções de armazenamento de dados sobre as características de
vinhos, uvas e vinícolas, lista dos vinhos da adega de uma pessoa e redes
sociais, que permitem a troca de informação entre os usuários da aplicação,
ainda que de forma limitada. Uma dessas aplicações para celulares chama-se
Vivino e tem uma versão de entrada gratuita e outra profissional paga. Acho que
é uma das mais populares pela facilidade de ler os dados principais do vinho,
tais como nome, vinícola, uva, safra, graduação alcoólica e região, a partir do
de uma foto do rótulo da garrafa. Esses dados podem ser depois corrigidos manualmente
se necessário.
É possível também fazer comentários sobre o vinho e dar uma nota de 0 a 5, variando de 0,5 a 0,5, que gera uma média de todas as notas. Esta nota de 0 a 5 é um fator de limitação e diferente de outras escalas que existem no mundo do vinho, como a de R. Parker (0 a 100). Essas notas são usadas por muitas pessoas como um indicador da qualidade do vinho. Eis o que diz a Folha de São Paulo sobre o Vivino: “Você vai ao mercado e não sabe qual vinho comprar. Seus problemas acabaram: tire uma foto do rótulo e poste no app que vai te ajudar com dicas sobres as melhores bebidas para seu gosto e bolso”.
A própria questão de atribuir uma nota a um vinho não tem sido
completamente aceita pelos apreciadores de vinho, com a alegação que reduzir a
análise das várias características que forma a personalidade de um vinho a uma
simples nota é um número em uma escala é um elemento redutor muito grande, é
quase um sacrilégio. Quando essa nota é dada por pessoas desconhecidas e
provavelmente não muito conhecedoras de vinho, como os usuários do Vivino, esta
questão surge mais forte: quão confiável é essa média. Muitos blogueiros de
vinhos têm escrito comentários negativos com relação a isso.
Naturalmente, há alguns pontos a considerar. O primeiro, a meu
ver, é a estatística. A média de um vinho que teve apenas duas ou três
avaliações não é confiável e pode até mesmo ser manipulada. Agora, se um vinho
teve centenas de avaliações, como alguns vinhos mais populares, então penso que
é possível ter certo grau de confiança na média produzida. Somando-se a nota
aos comentários de outros avaliadores, aos próprios conhecimentos, ao preço etc, é possível ter uma boa noção da qualidade do produto.
O segundo ponto a considerar está relacionado ao conceito que em
inglês escreve-se “wisdom of the crowds”, que pode ser traduzido livremente por
“sabedoria das multidões”. Esse conceito é usado em muitas aplicações que usam
a opinião dos usuários para dar uma nota a algum tipo de serviço, como
restaurantes, hotéis e locadoras de carro. Vejam por exemplo aplicações como
booking.com e tripadvisor.com. Aceita-se que a melhor forma de avaliar vem dos
usuários, que não necessariamente precisam ser especialistas no assunto. Com um
número suficientemente grande de amostra, acredita-se que a média das opiniões
convergirá para o que seria a média das opiniões de especialistas.
Como tudo na vida, a
realidade é geralmente mais complexa do que a retratada pelos algoritmos da aplicação.
O que fazer se ao abrir o vinho, a garrafa estiver estragada por má
conservação? O usuário deve dar uma nota baixa ou deveria abster-se de dar uma
nota nessa situação? Ou então, considerado um vinho jovem que deveria ser
consumido em um ano depois de entrar em comercialização. Usemos como exemplo um
Beaujolais. Alguém que não conhece esse detalhe guarda uma garrafa por três
anos em condições não ideais de conservação e depois abre. Encontra um vinho
passado e chocho e dá uma nota baixa. O vinho deveria pagar pelo
desconhecimento do consumidor?
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