terça-feira, 22 de outubro de 2013

Vinho de Supermercado - Gomellano

Gomellano é o gentílico de uma cidadezinha  ao norte de Madrid, na região de Burgos:  Gumiel de Mercado,  onde o vinho foi produzido.  Mais precisamente, ele é produzido com uvas da propriedade denominada  Real Sitio de Ventosilla, que já foi hospedagem dos reis de Espanha e hoje abriga a Vinícola PradoRey, produtora do famoso vinho homônimo. O sitio margeia o rio Duero e está incluído na D.O.C Ribeira del Duero.  Curiosamente, a única informação do contrarrótulo é o nome dessa propriedade e no site da Vinícola não há menção alguma ao vinho. Ele é vendido pelo Carrefour e algumas garrafas foram trazidas para o Brasil há alguns anos.É também vendido pelo Carrefour na Europa, especialmente na Espanha, mas apenas em algumas safras.

Eu comprei uma garrafa em novembro de 2009, do tipo Crianza, safra de 2003, Tempranillo, em uma promoção por R$16 a garrafa. Quando tomei o vinho, fiquei impressionado pela boa qualidade a um preço tão baixo. Fiz uma extensa pesquisa na Web e encontrei o comentário de um blogueiro que também havia comprado no Carrefour e não havia gostado, mas ele havia experimentado um Cosecha. O comentário existe até hoje:  http://vivinhos.blogspot.com.br/2010/07/gomellano-ribera-del-duero-espanha.html . Na Web havai  muito poucas informações sobre o vinho,  e concluí que se tratava de um vinho engarrafado por essa vinícola PradoRey, provavelmente de uma safra ruim, ou de algum vinhedo com videiras mais novas, especialmente para ser vendido no Carrefour. Um filho bastardo, que se esconde até onde possível. Voltei à mesma loja dois ou três meses depois e encontrei mais cinco garrafas, comprei, dei uma para a minha filha  e  guardei as outras, para tomar uma por ano.

Encontrei um comentário sobre o vinho em um site espanhol algum tempo depois. O comentarista comentava sobre vinhos de supermercados – que ele chamou de vinhos com marca “branca” – , dizendo que alguns deles podem ter boa proveniência, e dava 88 pontos a este Gomellano Crianza 2003, em postagem de 15/02/2009 (http://www.verema.com/foros/foro-vino/temas/573761-marcas-blancas-vinos?page=3):

“En la revista Sibaritas, dirigida por José Peñín, suele haber una página muy interesante denominada Los Vinos de Supermercado donde pone nota a una serie de vinos de marca blanca de las grandes superficies y grandes almacenes, mencionando la bodega productora. En lo que se refiere a Carrefour ahí van algunos ejemplos: El citado Valdoscardos es de Bodegas Frutos Villar (cuyos vinos de Toro son los Muruve) y Peñín les da una nota de 86 al tinto 2006 y 88 al crianza 2003. Los Gomellano de Ribera del Duero que se encuentran en sus establecimientos son de las Bodegas Real Sitio de Ventosilla (Prado Rey) con un 88 para su crianza 2003; yo lo he probado y está muy bien.”

Em 2009 eu também daria 88 pontos para este vinho. Nos anos seguintes eu abri uma garrafa a cada ano e o vinho continuou praticamente com a mesma qualidade. Hoje eu abri a última e o resultado foi decepcionante: aroma com pouquíssima intensidade e de baixa qualidade – lembrando um aroma que um amigo define como de “uva cozida”, que já encontrei em vários vinhos, –  halo bastante pronunciado e cor vermelho-atijolada. A entrada de boca lembrava ainda um vinho de boa qualidade, com notas de cereja e uma oxidação ainda prazerosa, mas era logo seguida por um desconforto nas papilas e um amargor acentuado. Depois de aerar por cerca de 30min, só piorou.  A nota hoje seria muito mais baixa, ao redor de 75.  Claramente um vinho que atingiu seu ápice e entrou em decadência. Considerando outras experiências, os vinhos espanhóis do tipo Crianza parecem atingir seu ápice em cerca de sete ou oito anos.





segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O vinho do reitor

Os estudantes que ocuparam a reitoria da Unicamp encontraram uma caixa de vinho Coeur de Méditerranée,  um corte das uvas Merlot e Grenache, na sala do reitor, segundo informam. Vejam a notícia em:
http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/10/dce-cobra-explicacao-da-unicamp-apos-achar-vinhos-na-sala-do-reitor.html .

Na fachada do prédio da reitoria há um enorme cartaz irônico com os dizeres "Venha conhecer a adega do reitor!!!!, saída do bandejão às 13h30". A caixa foi fotografada e a foto enviada para a imprensa; está também no Facebook, no site "ocupação reitoria 2013". A reitoria teve que se justificar e informou que se trata de uma compra de um grupo de funcionários que iria consumir os vinhos em uma festa a ser realizada fora do campus, mas por motivo de segurança deixaram a caixa guardada na reitoria. Os estudantes invadiram antes do consumo e fizeram a sua  própria festa, com a "adega" de vinhos franceses do reitor.

A justificativa da reitoria parece um tanto esfarrapada, mas é difícil acreditar que o reitor da Unicamp fosse servir esse vinho em alguma recepção oficial ou coisa parecida. Se fosse essa a intenção, teria sido uma péssima escolha. O vinho é bem básico e custa no Brasil entre 30 e 40 reais, na França entre 3 e 4 euros. É um "vin de pays", uma categoria básica inferior à A.O.C. e da região de Languedoc-Roussillon, que não tem tradição de produzir bons vinhos. É quase impossível comprar um vinho Francês razoável por esse preço.